Hidrelétricas no rio Madeira

desastre como meta e norma

Autores

  • Luis Fernando Novoa Garzon

Palavras-chave:

Desastres socioambientais induzidos, Grandes Projetos na Amazônia, Territórios empresariais, Planejamento Privado-Público

Resumo

Os grandes barramentos hidrelétricos determinaram uma intervenção homogênea no rio Madeira, inviabilizando a pesca, agricultura de várzea, a silvicultura, o transporte de pequenas embarcações, vedando um conjunto de manifestações socioculturais próprias às comunidades ribeirinhas. O cenário desastroso dessas intervenções, naquilo que seria a metodologia-padrão de socialização dos prejuízos, é mais que fonte originária e adicional de rentabilidade. Oferece também um entramado para a vigência de formas expandidas de controle biopolítico sobre os atingidos. Ribeirinho, pescador, coletador, agricultor familiar, antes condição potencialmente titular de direitos, decai, no pós-desastre, para a condição de flagelado à mercê de políticas emergenciais e assistenciais, quando muito. Maneira cômoda para os causadores e beneficiados de última instância de apagar evidências de crimes sociais e ambientais perpetrados. Em ato final, entram em cena a Defesa Civil e a Polícia Ambiental com suas medidas evacuatórias, aplicadas em nome da segurança das pessoas ou em nome da proteção de paisagens despossuídas de pessoas.

Biografia do Autor

Luis Fernando Novoa Garzon

Professor Doutor da Universidade Federal de Rondônia.

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Publicado

2019-07-31

Como Citar

Garzon, L. F. N. (2019). Hidrelétricas no rio Madeira: desastre como meta e norma. Revista Científica Foz, 2(1), 23. Recuperado de https://revista.ivc.br/index.php/revistafoz/article/view/116